A idolatria da vunerabilidade

O problema de se acostumar com o pecado e validá-lo porque alguém também faz

Ana Carolina Fercho

8/7/20254 min read

A exposição da vida “real” (mas com muitos filtros) de pessoas na internet, especialmente dos criadores de conteúdo, é o tipo de post que mais engaja hoje em dia. E vai por mim: quem cria para as redes sabe bem disso. A gente pensava que o algoritmo mandava os conteúdos de acordo com nossos gostos, mas já sabemos que, na verdade, ele manda conteúdos que chamam a nossa atenção. O problema é que, nem sempre, o que chama a nossa atenção é, de fato, algo que gostamos — ou que contribui para a nossa existência.

Algo que sempre chama atenção é quando alguém é “super sincero” em suas crises, sua rotina, suas falas. A sinceridade sempre chama atenção — é o gatilho perfeito.

Dentro do mundo cristão — nas igrejas, reuniões em casa, livros, pregações — os testemunhos são essa ferramenta de atenção e conexão do ouvinte com a mensagem. E quando Jesus está no centro da mensagem, e não o testemunhador, é maravilhoso. Uma história pessoal que aplica a mensagem da Palavra do Senhor nos ajuda a entender melhor e a praticar — a tornar a Palavra algo vivido, e não apenas ouvido.

O problema é que o mundo online está corrompendo e entrando com seus valores sorrateiros nas nossas mensagens cristãs, tirando o equilíbrio que o peso de um testemunho deve ter. Tem crescido absurdamente o número de livros, conteúdos, podcasts e vídeos que falam muito sobre a vulnerabilidade da vida daquele cristão — e pouco, bem pouco, sobre Jesus.

Para chamar atenção, talvez, o centro da mensagem tenha um endereço estranho ao Evangelho: a vida aqui, neste mundo.

A força das mensagens se concentra na humanidade do autor, em sua vulnerabilidade, e no quanto o leitor se identifica com isso. Então, um pensamento sorrateiro se instala: “Se mais alguém sente a minha fraqueza, então está tudo bem tê-la.”

“Está tudo bem não ter tanta fé assim.
Tudo bem falhar muito no nosso compromisso com o tempo de devocional.
Tudo bem não ter lido a Bíblia inteira ainda.
Tudo bem não conviver com meus irmãos porque não sou sociável.
Tudo bem ter constantes crises de ansiedade sem procurar ajuda, porque sou um ser ansioso.
Tudo bem sentir inveja e cobiça e transformar isso em memes.
Tudo bem que meu casamento estava por um fio — ou até se desfaça.
Tudo bem essas coisas porque o fulano, o influencer cristão, também passa por isso.
Tudo bem tolerar nossos pecados, porque assim somos “sinceros” e “verdadeiros”.”

E então nosso coração se acostuma.
É… a gente, que já é bem inclinado para as coisas da carne, adapta-se rapidamente, anestesiado da consciência de arrependimento.

Assim como um médico se acostuma com carnes apodrecidas e cadáveres de tanto vê-los e trabalhar com eles, nós nos acostumamos com o pecado.

Veja bem, intitulei o texto “A idolatria da vulnerabilidade” porque a vulnerabilidade, por si só, não é algo ruim. Acredito que ela é o primeiro passo para o arrependimento — que, por sua vez, é vital para a vida do cristão. Mas a idolatria sempre traz um volume, um peso a mais — um amor exagerado e corrupto a coisas boas. Ela nos leva a uma medida desproporcional, nos faz obcecados por coisas terrenas e tira nosso foco de Cristo.

Idolatria à vulnerabilidade é essa cultura de se acostumar com o pecado e validá-lo porque alguém também o comete. É apreciar as exposições afim de usá-las para se sentir um pouco mais confortável com o próprio pecado.

Com certeza, esse comportamento vem de um pecado bem interno e imperceptível a muitos — com o qual todos nós lutamos: essa inclinação de se esquecer da vida eterna que nos foi proposta. De nos esquecer que a eternidade é essa casa invisível, ainda aos nossos olhos, mas que continua sendo nosso destino e lugar.

Das coisas eternas do nosso Senhor deveriam vir nossas decisões e sonhos.
Deveríamos nos moldar à Palavra — e não moldar a Palavra a nós.

As coisas deste mundo deveriam ter um peso menor, pois são passageiras.
E apenas as coisas que não passarão deveriam guiar nossos princípios.

Este texto é um aviso. Um alerta ao que estamos considerando normal. Um cuidado aos nossos olhos — ao que consumimos todos os dias.

A verdade é que a mensagem continua a mesma: arrependa-se!
Ainda que, neste mundo moderno, se arrepender pareça sinônimo de fraqueza, lembre-se: os fracos são fortes no Senhor! E o Senhor deseja corações quebrantados.

Busque os valores do Santo — do Cristo que sofreu por cada um de nossos pecados.
E não tolere. Não se acostume.
O preço foi alto demais.