Não, a vida com Deus não é linear
abraçando a ideia de que a minha caminhada de fé tem altos e baixos
8/18/20254 min read
Depois de mais de uma década — quase duas já — caminhando com Jesus, abandonei a ideia de que vou alcançar um nível espiritual elevado nesta vida, onde não peco, não falho e não tenho tentações. Eu entendo que a natureza da fé é sempre uma progressão à santidade. Afinal, é bem isso o que o Espírito Santo faz em nós o tempo todo: Ele cutuca a nossa podridão, tirando o band-aid para expor as feridas invisíveis da alma e curar. Ok, mas ainda assim vou ter crises, altos e baixos, dúvidas, coisas a aperfeiçoar.
E se a progressão não fosse tão linear assim, mais com altos e baixos, mas constante?
Quando abracei essa ideia, Jesus ficou mais perto de mim. Me vi necessitada de perdão e direção tanto hoje, com as minhas quase duas décadas, quanto naquele dia, com 12 anos, quando entreguei minha vida a Cristo.
Não, a vida com Deus não é linear.
Eu vou explicar isso com uma parábola do mundo dos pintores — caso você não saiba, eu sou uma artista/escritora, olha meu IG se tiver um tempinho (: (Conheça meu trabalho aqui )
Quando você começa a pintar ou desenhar, tem uma infinidade de obras de outros artistas para se inspirar. Meu app favorito é o Pinterest, mas há vários outros. E lá vai você com o coração inocente, observando todas aquelas ideias e cores, gente de todo o mundo, mentes criativas e habilidosos pintores. E aí você começa, inevitavelmente, a se comparar. E isso vira uma maldição lançada contra a sua criatividade: você nunca se acha bom o suficiente e sempre, sempre mesmo, vai achar alguém que pinta melhor que você. E aí seu caderno permanece em branco, e aos poucos atrofia.
Para combater essa maldição existe uma regra que todos os que pintam há mais tempo levam a sério: só é permitido se comparar consigo mesmo, com o próprio trabalho de um tempo atrás. Com o trabalho dos outros a gente só se inspira, apoia e elogia. Aliás, a comunidade de arte nas mídias sociais é um ambiente bem bonito e saudável — talvez porque absolutamente todo mundo que cria já passou por isso, então os mais experientes apoiam quem está começando e por aí vai.
De maneira prática, de tempos em tempos olhamos o caderno de 6 meses atrás, 1 ano atrás, e observamos como melhoramos nossas técnicas. Às vezes até refazemos o nosso próprio desenho só para nos comparar com o nosso antigo eu-artista e ver como estamos avançando. O sentimento que revigora a alma traz novas inspirações e uma recompensa no coração de que você está fazendo um bom trabalho, ainda que seja mais devagar.
Eu acredito muito que essa é uma boa parábola para explicar o processo de santidade em nós. Não dá pra ficar se comparando com certos crentes que admiramos. Porque a história deles com Deus não é a mesma que a nossa; mas podemos, sim, nos inspirar neles, e isso faz bem pra fé. Também precisamos fazer o exercício de olhar para trás e ver os frutos do Espírito em nós. Talvez há um ano você era mais nervoso, conhecia menos da Bíblia, não se relacionava com sua família, não sei... mas agora você está melhor nessas coisas. Ou, no mínimo, se arrepende mais rápido.
Aliás, podemos fazer um gráfico melhor aqui: quanto mais crente, mais rápido eu me arrependo.
E essa visão de que nós somos falhos, quebrados e necessitados faz a gente se relacionar mais com Deus e melhor com os outros. Quando você arrota uma santidade que não tem, acha que já sabe. E quando Deus te corrige ou propõe provações da sua fé, internamente vai achar que Ele é injusto — e sua fé vai ficar instável, distorcida e por um fio.
Esse mesmo espírito arrogante também vai afastar você das pessoas: dos descrentes, porque eles vão se sentir julgados por você o tempo todo; e dos irmãos na fé, porque o seu olhar vai estar sempre afiado para ver o pecado deles, mas cego para ver o seu.
No meu livro De Todo o Coração, artes para colorir, tem um trecho assim:
“Ser filho de Deus significa que você tem um Pai que te dá carinho e também te disciplina. Ser filho de Deus é colocar o Espírito Santo no volante da nossa vida e confiar nEle como um perfeito motorista. E não, muitas vezes Ele não vai nos levar para onde queremos. (...) A verdade é que não importam muito os caminhos e as estações, o que vamos fazer ou o que vamos deixar. O que importa realmente é que estamos indo com Ele. Estamos na companhia dEle, como um Amigo, Conselheiro de aventuras. Muita história temos para contar das aventuras que vivemos com Jesus — e como é bom ter um Amigo assim.”
Aprendi, como artista e como filha de Deus, que o processo é tão importante quanto o resultado. A beleza da arte e do caráter é construída de exercício em exercício, de perdão em perdão, de oração em oração.
Aprecie a sua jornada com Deus. E ame-O com todo o coração.







